20 de nov. de 2010

Amor e Medo - Casimiro de Abreu

Quando eu te fujo e te desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
"- Meu Deus! Que gelo, que frieza aquela".

Como te enganas! Meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela - eu, moço; tens amor - eu medo.

Ai! se te vejo no calor da sesta,
a mão treme no calor das tuas...
Amarrotando o teu vestido branco,
Solto os teus cabelos nas espáduas nuas!

Ai! se te visse em languidez sublime,
Na face das rosas virginais do pejo,
Trêmula fala em protestar baixinho...
Vermelha a boca soluçando um beijo!...

Diz: - Que seria da pureza d'anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
- Tu te queimaras ao pisar descalça,
- Criança louca, - sobre um chão em brasas!

Oh! Não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo
Se de ti fujo é que te adoro muito.
És bela - eu moço: tens amor, eu medo.

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